quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Estrela no teto.

O quarto do meu irmão virou o quarto de computador. Foi melhor assim. Mudar as coisas de lugar diminui a estranheza de não tê-lo mais aqui. O armário, aos poucos, foi esvaziado e dele, guarda apenas uma ou outra camiseta preferida. A cama mudou de lugar. O computador veio para cá. Um mural de fotos, uns livros, outra cor na parede. Pronto. Algumas mudanças. Necessárias. Algo aqui, algo ali foi mantido igual. Melhor assim também.



A mudança desconstrói umas sensações que não são boas para se viver todo dia. E os detalhes preservados mantêm aquelas sensações sem as quais não seríamos capazes de viver. Cada qual com sua função: a mudança e os detalhes.

Hoje estava aqui, esperando baixar um arquivo e dei uma espreguiçadinha, estiquei, balancei os cabelos e olhei pra cima. Tudo automático, coisa que se faz todo dia. No teto deste quarto em que já estive por tantos anos, vi, pequenininha, esquecidinha, já pintada da cor nova do teto, uma estrelinha.

Sim, uma estrelinha. Lembra daqueles adesivos de estrela feitos para colar na parede, que brilhavam no escuro? É. O quarto dele passou longos anos da nossa infância com o teto cheio delas. Eram muitas e lindas. Agora é só uma, mas tem um brilho eterno.

Me lembro de papai chegando em casa com uma cartela delas e de termos passado a noite assentadinhos lado a lado, no chão do quarto, perninhas de índio, com olhinhos brilhantes assistindo nosso pai em cima da cadeira, colando as estrelinhas no teto, nos olhando de minuto em minuto, com aqueles já conhecidos, - e naquele tempo mais radiantes que nunca -, olhos de diamante.

Me lembro, ainda, que durante anos e anos, quase todos os dias antes de dormir, eu e meu irmão apagávamos a luz do seu quarto e passávamos uns minutos ali, olhando as estrelas, como se fossem mesmo o céu, como se o teto daquele quarto pudesse ter a dimensão do infinito do universo. E acho mesmo que podia.

Depois das estrelas, ainda vieram uns adesivinhos verdes, esquisitos, acho que eram Et’s. Hoje pode parecer engraçado, mas era tudo parte da magia, de um dia-a-dia cheio de fantasia, mágica e pequenos marcos feitos para nunca serem esquecidos. Pra você pode ser só um adesivo bobo no teto, pra mim é parte dos dias mais felizes que já vivi.

Por alguns anos foi meu programa preferido, meu lugar seguro. Olhar aquele teto brilhante a cada noite, cheio de estrelas e seres verdes de outros planetas, era uma mistura doce de ansiedade e felicidade, que plena assim, só mesmo as crianças têm. Felicidade plena para quem a vida se resume a viver, sorrir, amar e ver estrelas no teto do quarto.

Depois, passou o tempo, as estrelas se tornaram só adesivos infantis e foram tirados dali. Menos esta. Menos uma estrelinha que tantos anos depois, está aqui, solitária, esquecida, a me olhar, a nos olhar diariamente, sem que eu sequer houvesse reparado. Agora, serve para me lembrar que muito fica pra trás, mas há sensações que sempre vão existir, no coração, nas memórias, nos sinais, nas lembranças. E se existem sinais, pra mim este é um deles.

É só uma lembrança. Uma lembrança suave. E até um pouco dolorida. Mas é o que eu tenho de mais valor por hoje.

Uma estrela no teto.




P.s.: O post eu escrevi ontem. Hoje, são 5 anos sem ele! E ainda dói igual. De qualquer forma, é um registro simples e bom para mais este dia 23 de fevereiro.

3 comentários:

  1. SEM COMENTÁRIOS!
    BJO, MURI

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  2. Chorei.

    Muito lindo e de qualquer forma, sinto muito por isso...

    Bj.

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  3. Chorei!
    Vc é linda mha tchuquinha!!
    Bjus,
    Mamy

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